A Faculdades EST foi reconhecida pela Federação Luterana Mundial (FLM) como uma das instituições que implementam a agenda da Conferência de Beijing, marco global para os direitos das mulheres e a igualdade de gênero. O destaque aparece na publicação “Towards True Gender Equality: LWF’s Engagement for Women’s Rights 1995–2025”, lançada durante a Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2025, em Nova York.
A publicação celebra boas práticas e políticas institucionais que promovem a igualdade de gênero e os direitos das mulheres em diferentes países. No capítulo sobre o Brasil, a Faculdades EST é apresentada como “uma das principais instituições do país na integração de gênero na educação e na formação”, reconhecida por seu compromisso histórico e por iniciativas pioneiras na área.
Localizada em São Leopoldo, a Faculdades EST é uma instituição comunitária e confessional ligada à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). O relatório recorda que, ainda no final da década de 1980, o aumento da presença de mulheres na instituição motivou a criação de uma Cátedra de Teologia Feminista em 1990, resultado da mobilização estudantil. A partir dela, nasceu o Programa de Gênero e Religião, instituído em 2008, que passou a articular ações de formação, pesquisa e extensão voltadas à promoção da justiça de gênero.
Entre 2014 e 2015, o programa desenvolveu e implementou a Política de Justiça de Gênero da Faculdades EST, inspirada no documento da LWF de 2013. Essa política consolidou o compromisso institucional de reconhecer a justiça de gênero como princípio teológico, pedagógico e ético, incorporando-a aos documentos normativos e às práticas pedagógicas da instituição.
O diretor-geral da Faculdades EST, professor doutor Guilherme Valério Schaper, celebrou o reconhecimento internacional e destacou a relevância do compromisso assumido pela instituição. “Temos um percurso construído com seriedade, sensibilidade e convicção teológica. A Faculdades EST compreende a justiça de gênero não apenas como uma pauta social urgente, mas como expressão do Evangelho que nos convoca à equidade, ao respeito e à dignidade de todas as pessoas. Seguiremos firmes nesse compromisso”.
Acesso igualitário à educação
A publicação da LWF também enfatiza que a EST garante o acesso igualitário à educação, inclusive na pós-graduação, e adota estratégias para reduzir desigualdades entre homens e mulheres nos programas acadêmicos. A integrante do Programa de Gênero e Religião, professora Sabrina Senger, destacou no documento que “garantir o acesso igualitário à educação é uma marca da Faculdades EST”, embora ainda existam desafios relacionados ao apoio financeiro, psicológico e habitacional para que mais mulheres possam ingressar e permanecer na pós-graduação.
A professora doutora Marli Brun, também citada no texto, recorda que as mulheres já buscavam a formação teológica muito antes de serem ordenadas na Igreja Luterana no Brasil, e que foi a partir dessa mobilização que o programa de gênero se consolidou. Como estratégia de incentivo, a EST passou a oferecer bolsas de estudo e apoio à pesquisa e à publicação de mulheres, ampliando sua presença na academia e no ministério pastoral.
O documento ressalta ainda que a instituição colaborou com outras organizações luteranas e não luteranas na criação de políticas de justiça de gênero. É o caso da Política de Justiça de Gênero e Étnico-Racial da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Teologia e Ciências da Religião (ANPTECRE), com a colaboração da professora doutora Carolina Bezerra de Souza na coordenação de uma comissão que contava com docentes de diversas etnias de vários programas de pós-graduações da área. Essa comissão analisou muitos documentos, inclusive a Política de Justiça de Gênero da Faculdades EST.
Instituição firme na defesa da igualdade e justiça
Mesmo diante do contexto nacional de retrocesso e resistência ao debate de gênero, especialmente nos anos de 2019 a 2023, a publicação reconhece que a Faculdades EST manteve sua atuação firme em defesa da justiça de gênero, apoiando pessoas estudantes e docentes que sofreram perseguições por abordarem o tema em sala de aula.
O relatório destaca ainda a adoção da linguagem inclusiva em textos acadêmicos e litúrgicos e o incentivo à produção científica feita por mulheres, o que tem transformado a cultura institucional. “Hoje são as próprias pessoas estudantes que levantam a mão quando algo não soa adequado em um texto”, relata Sabrina à publicação.
O estudo conclui que a Faculdades EST representa uma prática promissora global no campo da educação teológica ao unir formação crítica, compromisso ético e perspectiva de gênero, contribuindo diretamente para o cumprimento dos objetivos da Plataforma de Ação de Beijing e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, mas também inspirando outras instituições de formação teológica em igrejas-membro da FLM.
“Ainda há muito a ser feito”
A reverenda doutora Marcia Blasi, professora da Faculdades EST, e diretora do Programa de Justiça de Gênero e Empoderamento de Mulheres na FLM, explica que “o Programa de Justiça de Gênero teve um efeito multiplicador em muitas igrejas-membro, onde as mulheres sempre estiveram muito envolvidas e se sentiram apoiadas em suas lutas. Há muitas conquistas que são difíceis de mensurar e ainda há muito a ser feito, pois, na última década, o mundo se tornou mais conservador e mais fundamentalista.”