Mas agora, Senhor, que hei de esperar? Minha esperança está em ti. (Salmos, 39:7)
Jürgen Moltmann (1926-2024), teólogo reformado alemão foi levado à companhia de Deus nesta segunda, dia 03 de junho de 2024.
Era considerado por muitos como o maior teólogo vivo neste, ainda, início de século. Sua obra é de relevância notável. Ficou conhecido por livros como Teologia da Esperança (1964) e Deus Crucificado (1972), além de outros textos. Em sua obra ele elaborou uma teologia sistemática completa a partir do princípio da esperança justamente em um contexto que clamava por isso.
Durante seus anos de juventude, Moltmann vivenciou a Segunda Guerra Mundial que trouxe destruição para a Europa e outras partes do mundo. Com apenas 16 anos ele foi forçado a servir como soldado pelo lado alemão e, nesse papel, foi feito prisioneiro de guerra pelos aliados entre 1945 e 1948.
Sua decisão pelo estudo da teologia veio justamente da experiência enquanto um jovem prisioneiro de guerra. Durante este tempo pode ler a Bíblia e obras teológicas. Seu pensamento foi muito influenciado por Karl Barth e pelo legado da Igreja Confessante, que havia resistido ao regime nazista e que teve em Dietrich Bonhoeffer um dos expoentes.
Moltmann tornou-se pastor e, alguns anos mais tarde, professor de teologia sistemática, fazendo carreira na Universidade de Tübingen, sudoeste da Alemanha, onde viveu até sua morte em 03 de junho do presente ano.
Sua teologia traz a marca de um povo, por um lado, dilacerado pela guerra e, por outro, em um momento de reconstrução e transformação pela esperança. Seu pensamento teológico é, portanto, profundamente escatológico enquanto uma teologia orientada pela fé na ação de Deus dentro da história que conduz o seu povo.
Por esse, entre outros motivos, Moltmann influenciou de maneira crucial o desenvolvimento da teologia latino-americana, inspirando pensadores como Rubem Alves, Gustavo Gutiérrez e tantos outros notáveis nomes.
Desde os anos 80, Moltmann refletiu de modo evidente a questão ambiental, demonstrando as correlações entre a teologia da criação, a escatologia e a ética social.
A sua teologia da esperança nos inspira, em nosso contexto em que também vivenciados novas guerras e desastres climáticos no Rio Grande do Sul e no mundo. Estamos agora ainda sob a angústia dos dias que vivemos, das marcas abertas na terra, na carne e no espírito, mas a esperança no Deus ressuscitado, que proclama a vida sobre a morte e que refaz incessantemente pelo seu Espírito, nos fortalece em esperança.
Que a esperança em Deus e o legado da vida, pensamento e fé de Jürgen Moltmann possa nos reconduzir para um novo tempo não apenas de reconstrução, mas de transformação.
Pablo Fernando Dumer
Doutor em Teologia Sistemática